sábado, 21 de agosto de 2010

De Beauvoir a Carla Cristina: O Axé e a Denúncia Social



Depois de uma longa pausa, o meu, o seu, o nosso aro irá analisar mais uma canção da MEB (Música Erudita Brasileira) muito escutada, dançada, mas pouco refletida.

Como todos os senhores conhecem, em algum lugar do passado recente, o boom do axé music tomou conta dos televisores nacionais e a cada domingo um novo grupo bahiano surgia com um sucesso e uma proposta musical e artística inovadora.

Beto Jamaica e Cumpadi Uóxito trouxeram o conceito heideggeriano de “tchan”, a companhia do pagode trouxe a garrafa e Kant, Hegel e Nietzsche quando viram a boca da garrafa ficaram loucos e também foram ralar.

Se você se inquire sobre qual seria essa concepção essencial, aí vai:

O Axé Music surgiu obviamente como um movimento de massas, ambicionando agrupar no mesmo espaço apertado, o maior número de gente suada e fedida para pular e repetir roboticamente passos e coreografias ditados por livres pensadores e artístas do corpo que, através de suas dancinhas, poderiam liberar o boga (ops) a consciência para experimentar de forma carnal o processo de alienação e reificação na sociedade de massas.

De fato, o termo Axé Music agrega grupos e pensadores de orientações totalmente distintas:



Temos Bel Marques e o Chiclete com Banana que conservam a constante tentativa de lançar o homem diante do espanto aristotélico para com a realidade: “Cara Caramba!”...O que é o Chiclete com Banana? É um afecto, a maleabilidade borrachuda e insistente da contigência existencial em termos Sartreanos;



Por sua vez, temos Durval Lelys e o Asa de Águia que através do humor, da irreverência e da bufonice pregam uma nova moral em uma perspectiva nietzcheana, daí o nome: Asa de Águia.

Não é peito de frango, coxa, sobrecoxa, mas sim: Asa, e de águia, o instrumento-meio para alçar as elevadas alturas do espírito livre.



Curiosamente, outros grupos como Terrassamba, Harmonia do Samba, Banda Mel, Banda Beijo, Axé Blond e Banana Split foram acusados de terem perdido as raízes e concepções iniciais do movimento do Axé Music. “Trairam o movimento Axé Music véio” disse o Sociólogo Dado Dollabella.

Os preceitos basilares trazidos por Cumpadi Uóxito com o tempo foram se degradando em exibições de corpos malhados matematicamente em academias, além de coreografias repetitivas e enfadonhas, o que deu abertura para o surgimento do período mais negro da música de domingo (assim conhecido tal movimento em razão do espaço explorado nos programas dominicais de entretenimento).

O crepúsculo do Axé veio com o Padre Marcelo Rossi que, aproveitando-se dos princípios e diretrizes do movimento, utilizou o Axé no escuso intento de evangelizar e trazer a palavra da salvação, em certos momentos no mesmo grandioso palco de Gugu Liberato, grande menestrel e responsável outrora por abrigar estes grandes artistas e gênios da música brasileira.



O Axé caiu no obscurantismo, e podemos chamar esse período de Idade Média do Axé Music. Pouco se produziu nesse período e as rádios estavam abarrotadas das canções doutrinadoras do Padre Marcelo.

De toda forma, o papel de resgate filosófico, cultural e reflexivo do axé music original caiu na mão de um grupo de mulheres, todas oriundas da vanguarda do feminismo bahiano e seguidoras fieis de Simone de Beauvoir e Susan Sontag.



Carla Cristina Magalhães Ribeiro Andrada nasceu em Salvador-BA, filha da mais fina burguesia bahiana, estudou nas melhores escolas da capital, mas para espanto de todos, traiu sua classe abandonando a faculdade de Administração na UFBA para cursar Filosofia e Etnologia na Sorbonne em París.



Passados alguns anos, influenciada e incentivada por Simone de Beauvoir, sua mentora, Carla Cristina voltou ao Brasil para, junto com outras jovens artistas e intelectuais soteropolitanas, resgatar o caráter crítico do Axé Music.

Ousadas e irreverentes, as artistas eram conhecidas pelos cafés e bares de Salvador como “As Meninas”, passando estas a aderirem e intitularem-se definitivamente como tais.



O primeiro disco foi de cara um grande sucesso, trazendo em seu bojo toda a carga ideologica contida nos anseios e expectativas do grupo, “Xibom Bombom” lançado em 2000 pela Universal Music vendeu mais de 400 mil cópias no Brasil, recebendo disco de ouro.

A música de trabalho do primeiro álbum será analisada a seguir:

“Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!”

João Cabral de Melo Neto

De plano, temos uma expressão repetitiva que alterna e brinca com o adjetivo: “bom”, que repetido forma o substantivo: “bombom”, ou ainda o adjetivo “bom” superlativizado, e tendo o “xi” como intersecção, ou ainda como prefixo da expressão "xibom".

O que seria o "xibom"?

Vemos portanto, que a filiação ao concretismo é anunciada logo no início.

“Analisando
Essa cadeia hereditária
Quero me livrar
Dessa situação precária...(2x)
Onde o rico cada vez
Fica mais rico
E o pobre cada vez
Fica mais pobre”


Talvez o grande feito das Meninas tenha sido empregar o verbo “analisar” em uma canção de axé. Quem diria hein?

E o que analisam as Meninas?

Uma cadeia hereditária. Vemos aqui o denuncismo de conteúdo político, relembrando que é no Estado da Bahia que temos uma das mais famosas famílias de caciques políticos que passam de geração em geração o poder estatal: os Magalhães.

O eu-lírico ainda aponta o intuito de desvencilhar-se do estado de precariedade em que se encontra no meio desse sistema.

Tal sistema assume um caráter determinista expresso na relação vetorial onde o abastado somente se acentua como tal e por sua vez o miserável só se exterioriza e age afundando-se mais na pobreza.

O Determinismo nega a possibilidade de escolha ante a existência de uma sucessão de fatos que o homem não pode interromper e escapar. O homem está submetido,inexoravelmente, a uma série de leis naturais, sujeitas ao princípio da causalidade.

Estão contidos nessa extrofe o darwinismo social, o determinismo de classes e o sujeito esmagado pelo fenômeno social.

Mais do que denunciar, as Meninas buscam apontar causas para tal fenômeno e assim expressam:

“E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desce
E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desce”...


Temos que considerar que tal composição emergiu em um clima de profundo pessimismo.

A queda do muro de Berlim, a derrocada da ideologia marxista, o neoliberalismo soberano em todo o mundo e enquanto isso no Brasil o que viviamos?

A consolidação da política liberal iniciada por FHC e reiterada por Lula e as privatizações generalizadas.

O de cima inevitavelmente subirá, o de baixo descerá, mesmo sendo de conhecimento geral, a tomada de consciência da classe trabalhadora não se efetivara como previsto no ideal Marxista.

E o refrão:

“Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!
Bom xibom, xibom, bombom!”




O que parecia uma criação concretista toma novos ares, o bom xibom, xibom, bombom, se assemelha ao movimento impiedoso de uma máquina, de uma caixa registradora, utilizando-se de um recurso que Chaplin empregou no filme "Tempos Modernos", para denunciar a automação e alienação do individuo no trabalho, não reconhecendo mais a si em seu produto.

Contudo:

“Mas eu só quero
Educar meus filhos
Tornar um cidadão
Com muita dignidade
Eu quero viver bem
Quero me alimentar
Com a grana que eu ganho
Não dá nem prá melar
E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desce
E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desce...”


O humanismo expresso na estrofe final é esperançoso. No anseio do trabalhador está a aurora de um novo dia. A luta pelo salário digno, a busca pela educação, alimentação, dignidade e cidadania trazem em si a semente do novo amanhã, mesmo em face do determinismo que todo mundo já conhece em que o de cima sobe e o de baixo...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

São apenas calúnias...



Ultimamente, este que vos escreve tem sido alvo de comentários e rumores sobre uma suposta revelação a ser feita no mês de setembro. Estaria ele aguardando o centenário do corinthians para revelar que na verdade é bambi?

Meus caros, não tenho nada a revelar, até em razão da única coisa que tenho a confessar e que volta e meia poderia ser motivo de constrangimento, é o fato público e notório que sim.. eu sou corinthiano.

Minha mãe sempre soube, meu pai chegou até a incentivar. O resto, foram más companhias, influências negativas da mídia (Dinei) e o principal: A falta de oportunidades. O sistema que me fez assim .

Quanto ao fato do bambilismo uma coisa cumpre observar.

Em muitas ocasiões o velado preconceito social do brasileiro de classe média e classe alta, que não pode fugir do políticamente correto, é expresso através de brincadeiras relativas aos torcedores de times tipicamente populares, como Corinthians e Flamengo.

Ou seja, o cara não pode dizer que não gosta de pobre, negro e favelado, mas pode falar mal de corinthiano e flamenguista associando as ideias diretamente.

Por outro lado, poder-se-ia dizer que as sátiras relativas aos sãopaulinos traduziriam uma homofobia velada. O que não é mentira. Mas há de se considerar que a relação cultural do brasileiro com o homossexualismo é muito híbrida.

O cara adora piada de bicha, ri de bicha, ri com bicha, imita bicha, mas não pode ser amigo ou parente de uma!?!?

Longe do patrulhamento ideologico, acredito que o humor ajuda a quebrar barreiras e o fato de impormos tabus só aumenta a tensão social e o preconceito velado. Eu por exemplo, fui criado numa cultura de consumo e produção de humor relativo aos gays, acho graça de piada de bicha, imito bicha, riu das ironias e graças das bichas e aprendi a conviver, respeitar e defender a diversidade...

Momento oportuno, para certos sujeitos, lembrarem que o bambi (e o ridiculo dos bambis) não é um termo pejorativo pela opção sexual de nossos colegas tricolores,mas um enaltecimento de sua origem elitista, racista e cheia de frescura.

Nossos avós corinthianos chamavam os avós dos bambis de pó-de-arroz. Expressão para o tricolor do morumbi e das laranjeiras que não admitiam negros ou mestiços em seu plantel.

Já sobre a revelação... prefiro citar outro pedreiro bruto e ríspido que um dia foi duvidado sobre o mesmo.. e assim ele brutamente respondeu na versão do clássico "tell me once again" que virou:

Diz que vai dar, meu bem
Seu coração pra mim
Eu deixei aquela vida de lado
E não sou mais um transviado

(ref.)
Telma, eu não sou gay
O que falam de mim são calúnias, meu bem
Eu parei . . . . .

Não me maltrate assim não posso mais sofrer
Vamos ser um casal moderno
Você de bobs e eu de terno (ref.)
Eu sou introvertido até no futebol
Isso tudo não faz sentido
E não é meu esse baby doll (ref.)

Telma, ô Telminha, não faz assim comigo
Não me puna por essas manchas no meu passado
Já passou, esses rapazes são apenas meus amigos
Agora eu sou somente seu, meu amor

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Márcio Greyck: O Melhor Amigo do Homem



Foi na minha primeira dor de cotovelo que eu conheci a combinação drástica de uma garrafa de Ypioca e Márcio Greyck. Dalí em diante, nos recorrentes abalos fenomenológicos e amorosos de minha consciência, encontrava em Greyck o companheirismo que Heidegger não era capaz de me dar...

Nos inúmeros impasses e conflitos provocados pelo choque contigencial do ser ante estas criaturas chamadas de mulheres, "criaturas do sexo feminino", ele estava lá.

Uma coisa é fato: Dor de cotovelo = Márcio Greyck.

Mas nunca esqueça: Nunca ouça Márcio Greyck sozinho.

Enquanto a Xuxa e Engenheiros do Hawaii fizeram músicas com mensagens subliminares louvando o capiroto, alguns bêbados relatam que quando se ouve Márcio Greyck sozinho, uma voz ao fundo te instiga ao suicidio.

Digo: Nunca, nunca ouça Márcio Greyck sozinho. Sempre esteja acompanhado de um amigo e de uma garrafa de pinga.

Acompanhemos algumas pérolas poéticas deste cantor do sofrimento e do abandono:

APARTAMENTO

O que eu podia ter, eu tenho
O mundo é muito bom pra mim
Me deu mais do que eu mereço
Pagou mais do que meu preço
Mas não estou feliz aqui...


A primeira estrofe contextualiza o eu-lírico em sua realidade material, dominada pelas relações de produção. A alienação advinda com o conformismo diante das benesses do capital, estas reduzem o ser e o fazem crer que seu eu está reduzido ao que possui.

As coisas desse apartamento
Jamais sonhei poder comprar
Tenho tudo o que eu queria
Mas a vida está vazia
E eu não estou feliz, porquê...



Todavia, o vazio existencial não se preenche através da mera relação material com os bens de consumo. A falta de uma espiritualidade perdida, A utopia da felicidade do pequeno-burguês que nunca se efetiva.. A angústia inefável do homem contemporâneo.

Falta você pra morar nessa casa
Pra pisar no tapete e alegrar minha cama
Tudo o que eu tenho não vale de nada
Pois você está distante
Você já não me ama


O eu-lírico projeta na amada sua raison-d'être, a ausência da musa é o preenchimento animico dos objetos e bens de consumo. É a memória, no sentido proustiano, que lança vida e experiência ao tapete inanimado.

Falta você pra morar nessa casa
Pra pisar no tapete e alegrar minha cama
Tudo o que eu tenho não vala de nada
Pois você está distante
Você já não me ama

Você já não me ama...
Falta você!


Eis o homem pós-moderno, aflito, em companhia dos bens de consumo que não atribuem sentido à sua realidade. A imobilidade da mobília é a correspondência da estagnação da existência sem amor.

domingo, 1 de agosto de 2010

Por qual razão Jesus ainda não voltou?


Muitos se questionam sobre quando Jesus voltará, ou a razão dele ainda não ter voltado para livrar a terra do mal e dar um kickroad no capeta.

Apresento algumas teorias para o atraso no retorno...



Jesus poderia estar preso no caminho da serpente depois de treinar muitos anos em uma gravidade maior que a terra no planeta do Sr. Kaioh.



Na verdade Jesus há havia treinado com o Sr. Kaioh por dois dias depois de ter sido crucificado, quando seus discipulos Pedro, João e Kuririn reuniram as sete esferas e o trouxeram a vida, para descrença de Tomé.
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Outra possibilidade é Jesus ter se perdido e buscado informações com o Mestre dos Magos que deve ter lhe dito coisas como:

"O que você procura fora, talvez esteja dentro de você".
"O caminho do retorno nem sempre é o trajeto da ida".
"Voltar por onde veio, não significa passar por onde já se passou".

O coitado tá confuso até agora...
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Ou talvez Jesus esteja simplesmente engarrafado na Dutra...