sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Márcio Greyck: O Melhor Amigo do Homem



Foi na minha primeira dor de cotovelo que eu conheci a combinação drástica de uma garrafa de Ypioca e Márcio Greyck. Dalí em diante, nos recorrentes abalos fenomenológicos e amorosos de minha consciência, encontrava em Greyck o companheirismo que Heidegger não era capaz de me dar...

Nos inúmeros impasses e conflitos provocados pelo choque contigencial do ser ante estas criaturas chamadas de mulheres, "criaturas do sexo feminino", ele estava lá.

Uma coisa é fato: Dor de cotovelo = Márcio Greyck.

Mas nunca esqueça: Nunca ouça Márcio Greyck sozinho.

Enquanto a Xuxa e Engenheiros do Hawaii fizeram músicas com mensagens subliminares louvando o capiroto, alguns bêbados relatam que quando se ouve Márcio Greyck sozinho, uma voz ao fundo te instiga ao suicidio.

Digo: Nunca, nunca ouça Márcio Greyck sozinho. Sempre esteja acompanhado de um amigo e de uma garrafa de pinga.

Acompanhemos algumas pérolas poéticas deste cantor do sofrimento e do abandono:

APARTAMENTO

O que eu podia ter, eu tenho
O mundo é muito bom pra mim
Me deu mais do que eu mereço
Pagou mais do que meu preço
Mas não estou feliz aqui...


A primeira estrofe contextualiza o eu-lírico em sua realidade material, dominada pelas relações de produção. A alienação advinda com o conformismo diante das benesses do capital, estas reduzem o ser e o fazem crer que seu eu está reduzido ao que possui.

As coisas desse apartamento
Jamais sonhei poder comprar
Tenho tudo o que eu queria
Mas a vida está vazia
E eu não estou feliz, porquê...



Todavia, o vazio existencial não se preenche através da mera relação material com os bens de consumo. A falta de uma espiritualidade perdida, A utopia da felicidade do pequeno-burguês que nunca se efetiva.. A angústia inefável do homem contemporâneo.

Falta você pra morar nessa casa
Pra pisar no tapete e alegrar minha cama
Tudo o que eu tenho não vale de nada
Pois você está distante
Você já não me ama


O eu-lírico projeta na amada sua raison-d'être, a ausência da musa é o preenchimento animico dos objetos e bens de consumo. É a memória, no sentido proustiano, que lança vida e experiência ao tapete inanimado.

Falta você pra morar nessa casa
Pra pisar no tapete e alegrar minha cama
Tudo o que eu tenho não vala de nada
Pois você está distante
Você já não me ama

Você já não me ama...
Falta você!


Eis o homem pós-moderno, aflito, em companhia dos bens de consumo que não atribuem sentido à sua realidade. A imobilidade da mobília é a correspondência da estagnação da existência sem amor.

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