Dylan se desequilibrando da moto
Morrison inerte em sua banheira
Nietzsche em prantos abraçado ao cavalo
Os miolos de Hemingway numa remota fazenda
Barbosa cai um segundo atrasado na bola
Virginia mergulha com pedras no leito de um rio
Vestígios de sangue e de pó
Na fronha de um velho amigo morto
Uma linda garota com a maquiagem borrada
Despeja os excessos da noite
Debruçada na latrina do bar do Cabelo
Um santo deserta ao amanhecer
Um vira-lata uiva de fome
Belchior fecha a conta do hotel
Raul espera na poltrona
A cerveja que esquenta na mão de Hank
Lorca morto na mão de um fascista
Zé Ramalho indo a nocaute outra vez
Vim para tão longe
Trazendo minhas memórias comigo
As levo a passear
As distraio
Compro algodão doce e balão
Espantam-se com o rugir do oceano em Cascais
Flanam em Greenwich Village
Morrem de tédio no Tortoni em Buenos Aires
Deixam-se seduzir por um pederasta em Paris
Quando enfim as ofereço a última dose
E peço a da casa no boteco de Seu Auri
Elas me sussurram o mesmo
O de sempre:
“Você consegue fugir de tudo
menos de si”.
(Homenagem ao “que eles querem” de Bukowski)
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