quinta-feira, 30 de maio de 2019
A depressão do amor
Deu no rádio em cadeia nacional,
O novo velho governo tirou o amor de circulação,
Como medida da mais asséptica austeridade...
Explica o Ministro empertigado,
Em polvorosa,
A gente desprevenida pôs-se a revirar os bolsos,
Arreganhar gavetas e levantar colchões...
Sob o espanto de seus maridos,
Recatadas esposas revelam paixões,
Reavivam desejos ocultos e taras incontidas,
Até o padre tinha lá das suas reservas,
Casais de enamorados contabilizam suas economias,
E o mais rechaçado dos feios se encontrou afortunado.
Não tardou para que a fila em torno do banco,
Completando inúmeras voltas,
Apinha-se desesperados com cartas e bilhetes em punho...
E eu que tão pródigo de quereres fui,
Me guardei até o derradeiro instante,
Perdi o tempo hábil do desvalido escambo,
E me deparei com papeis inúteis.
De que serve o amor quando já impassível de oferta?
Há quem interessa tais demandas?
Deitei-o em uma arca com notas de cruzeiros,
Embrulhei pão e peixe,
Forrei meus calçados rotos,
O que ainda sobrou guardo inconfesso,
Na espera de que um dia,
Um mísero dia,
Se torne item de colecionador.

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