terça-feira, 27 de abril de 2010

A Culpa é da Pós-Modernidade



Se você se sente confuso, atordoado, abestalhado e enfezado com a complexidade do mundo e da vida, não hesite, ponha a culpa na pós-modernidade.

Se sua mulher se queixa de seu bucho, de seus vícios e falta de educação, e sugere que você passe a compor o quadro dos indivíduos que rompem com o paradigma monogâmico pequeno-burguês do patriarca fornecedor (tomar um chifre) a culpa é da pós-modernidade.

Se seu chefe lhe acusa de falta de iniciativa, desleixo, indiferença, e sugere discretamente que você deveria compor momentaneamente a mão de obra reserva do sistema capitalista (ser demitido) a culpa é todinha da pós-modernidade.

Nos já idos anos 90 tudo era resultado do pós-guerra fria.

Com a expansão do acesso à educação e a inclusão digital atingindo as camadas mais esculhambadas da sociedade, todos passaram a dar pitaco no mundo social e político ou a atribuir uma expressão macro ao contexto de querelas locais.

Duas vizinhas encostadas no muro:

-Minha filha, tu nem sabe, nem te conto: a Dorinha tava dando a bunda pro Dono da Budega em troca de um litro de farinha.

- Mulhé! O Ciço, marido dela, tá desempregado, enquanto a prosperidade advinda da livre iniciativa prometida pela mão invisível não se expressar naqueles sacos de piquí que ele vende, vai ser o jeito a Dorinha emprestar sua mão-de-obra em busca da mais-valia farinácea do Dono da Budega!

Antes que questionem a verossimilhança do diálogo aludido, ressalto que por muito tempo a venda de gêneros como grãos e farinha em budegas e tabernas, se dava através da medida liquida, posto que o parâmetro de venda utilizado se dava através de uma lata de um litro de óleo soja.

Debate típico do inicio dos anos 90 em uma ladeira do Crato:


- Chaguinha me ajuda a empurrar o diplomata que deu prego até a descida da ladeira!

- Ave Maria! Enquanto o mercado terceiro mundista não se abrir `as benesses da industria automobilística do primeiro mundo favorecendo a livre concorrência e o crescimento da industria local, vamu ter que ficar impurrando essas lata-velha nacional.

- Por isso que eu votei no Collor que é alagoano, que é macho, num tem medo da concorrência entre a indústria nacional e o pólo automobilístico estrangeiro.

-Esse negócio de arregar com medo da mão-de-obra barata que favorece o baixo preço da produção asiática é coisa de sulista.

-Pois num é homi, o que emperra nóis é a legislação trabalhista protetiva assim como a força da organização sindical e o defazamento do modelo fordista ta escangalhando a industria americana.

Infelizmente o neoliberalismo e a cultura de massas praticamente dissolveu inúmeras relações e ações típicas de culturas locais e marginalizadas.

Com o crescimento do poder aquisitivo das classes mais baixas e o acesso à tecnologia fomentado pela sociedade de consumo muita coisa será perdida.

Por isso, defendemos a criação do museu do pobre, para guardarmos para futuras gerações o retrato de uma época.

Com a televisão digital, o sinal HD e não sei mais lá o quê, impossível será ver pobre colocando pedaço de bombril nas pontas da antena pra sintonizar a manchete.

Com o excedente de produtos derivados do leite e a queda dos preços, pobre não vai mais lamber a tampa metálica do “iórgute”.

Do mesmo modo não será mais preciso abrir pasta dental pra pegar o restinho, acumular gomos de sabonete e fazer um bolão.

O consumo desenfreado de refrigerantes não permite o tempo para gerar o risco de se perder o gás da coca-cola e a necessidade de se colocar uma colher pro gás não escapar.

O crescimento do setor de tapauers e vasilhames à baixo custo tornou desnecessário colocar pregadores nos pacotes de bolacha, arroz e feijão do armário.

Enfim, ante tal cenário lançamos a coluna social do no seu aro. Rycharlycleysson Rego irá cobrir o que há de novo na baixa sociedade manauara, os melhores casamentos, enterros, chás de panela, chás de bebê, renovação e outros eventos bombantes, com muita gente bonita, elegante e alto-astral.

2 comentários:

  1. oohhh boy, tenho que confessar aos seguidores deste famigerado blog que este texto foi escrito durante a madrugada, enquanto o nobre autor ouvia Falcão e tomava chimarrão (e eu tentava dormir), tudo isso em razão de uma insônia provocada por um pesadelo que assombrou o autor: sonhou que o flamengo ganhava do corinthians por 4X1, jogo de 28.04 (próxima quarta) válido pela Libertadores da América!! É muita noia...

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  2. E viva as noites em claro regadas a chimarrão! O post ficou muito bom, o tema é bem interessante.

    Quanto ao sonho, hoje saberemos se foi só um sonho qualquer ou se foi um sinistro presságio... (calma, brother!)

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