sexta-feira, 5 de março de 2010

A Influência da Astronomia nas Canções do Art Popular

O grupo de pagode Art Popular ficou famoso nos anos 90 por escrever uma das canções do repertório melacueca mais complexas até então vistas. Apesar do sucesso inicial, o grupo entrou em franco declinio com a saida de seu lider e mentor Leandrinho.

Atendendo a inúmeros pedidos, vamos realizar a análise de uma de suas mais controversas canções, a música Temporal:



"Faz tempo que a gente não é
Aquele mesmo par
Faz tempo que o tempo não passa
É só você estar aqui
Até parece que adormeceu
O que era noite já amanheceu"...


Na primeira estrofe o eu-lirico denuncia o declinio de uma relação e rememora nostálgico a felicidade anterior, notem como o emprego da metáfora "o que era noite já amanheceu" denota a inevitabilidade do fracasso da relação.

"Cadê aquele nosso amor
Naquela noite de verão
Agora a chuva é temporal
E todo céu vai desabar"...


De fato o emprego de imagens associadas a fenômenos da natureza é uma característica do gênero melacuequis, o eu-lirico novamente se questiona sobre o passado feliz, o paraiso perdido. A chuva que anteriormente evocava uma imagem terna e romântica agora retrata a melancolia e o caráter lúgubre do Temporal.


"Eh!
Até parece que o amor não deu
Até parece que não soube amar
Você reclama do meu apogeu
Do meu apogeu!
E todo o céu vai desabar
Ah ah ah ah ah ah ah!
Ai! Desabou!."..(2x)


Chegamos ao refrão. o "Eh!!" demonstra a constatação da realidade dos fatos da parte do eu-lirico. Vejam como o poeta foi feliz no verso "até parece que o amor morreu", ou seja, o amor como quantidade, como algo que acaba, se exaure, mas em virtude da ignorância, do "não saber amar". Mas quem não soube amar?

Logo a seguir, vemos uma referência astronômica.

Apogeu vem do grego (apógeyon) que consiste no ponto na órbita de corpo celeste em que é máxima a sua distância do centro da Terra. Também é utilizado para expressar o mais alto grau, o ponto culminante o auge.

Não é novidade o emprego de referências de culturas clássicas. Outro poeta do gênero, Rodriguinho dos Travessos refere-se à sua musa e amada como querubim, que vem da tradição judaica e na cabala ocupa a condição de anjo de primeira hierarquia, entre os serafins e os tronos, curiosamente na arquitetura e pintura neo-clássicas a imagem passou a ter a expressão de uma criança formosa.

De fato, a musa do eu-lirico critica o apogeu, podemos perceber um tom autobiográfico neste trecho, considerando que Leandrinho passava por uma crise amorosa em seu casamento com Jessivânia em virtude da vida atribulada de um astro do pagode.
O conflito leva à sensação que o eu-lirico tem de ver o céu desabar, vejam:
O astro... em seu apogeu... sente que o céu vai desabar...

e o ah...ah...ah....ahh... em escala microtonal descendente dá o som de uma queda das alturas do apogeu..


Eh!

Eh!
Até parece que o amor não deu
Não deu!
Até parece que não soube amar
Você reclama do meu apogeu
Do meu apogeu!
E todo o céu vai desabar
Ah ah ah ah ah ah ah!
Ai! Desabou!
Me iludiu!..


Em um trecho onde temos uma pequena variante do refrão, o eu-lirico conclui: "Ai!Desabou!" e "Me iludiu!" que finaliza a música inserindo a canção no gênero pagode melacueca trágico romântico que tem como caracteristica principal denunciar o desencantamento do homem em relação ao mundo em virtude de ilusões amorosas quebradas por um par de chifres.

2 comentários:

  1. Genial, depois de anos de angústia, consegui entender porque ela reclamava do apogeu e o que era esse apogeu. Obrigada!

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  2. O compositor da musica(temporal) é um pernambucano que se chama paulo, ele vendeu a musica na decada de 90.. para o art popular

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