O grupo de pagode Art Popular ficou famoso nos anos 90 por escrever uma das canções do repertório melacueca mais complexas até então vistas. Apesar do sucesso inicial, o grupo entrou em franco declinio com a saida de seu lider e mentor Leandrinho.
Atendendo a inúmeros pedidos, vamos realizar a análise de uma de suas mais controversas canções, a música Temporal:
"Faz tempo que a gente não é
Aquele mesmo par
Faz tempo que o tempo não passa
É só você estar aqui
Até parece que adormeceu
O que era noite já amanheceu"...
Na primeira estrofe o eu-lirico denuncia o declinio de uma relação e rememora nostálgico a felicidade anterior, notem como o emprego da metáfora "o que era noite já amanheceu" denota a inevitabilidade do fracasso da relação.
"Cadê aquele nosso amor
Naquela noite de verão
Agora a chuva é temporal
E todo céu vai desabar"...
De fato o emprego de imagens associadas a fenômenos da natureza é uma característica do gênero melacuequis, o eu-lirico novamente se questiona sobre o passado feliz, o paraiso perdido. A chuva que anteriormente evocava uma imagem terna e romântica agora retrata a melancolia e o caráter lúgubre do Temporal.
"Eh!
Até parece que o amor não deu
Até parece que não soube amar
Você reclama do meu apogeu
Do meu apogeu!
E todo o céu vai desabar
Ah ah ah ah ah ah ah!
Ai! Desabou!."..(2x)
Chegamos ao refrão. o "Eh!!" demonstra a constatação da realidade dos fatos da parte do eu-lirico. Vejam como o poeta foi feliz no verso "até parece que o amor morreu", ou seja, o amor como quantidade, como algo que acaba, se exaure, mas em virtude da ignorância, do "não saber amar". Mas quem não soube amar?
Logo a seguir, vemos uma referência astronômica.
Apogeu vem do grego (apógeyon) que consiste no ponto na órbita de corpo celeste em que é máxima a sua distância do centro da Terra. Também é utilizado para expressar o mais alto grau, o ponto culminante o auge.
Não é novidade o emprego de referências de culturas clássicas. Outro poeta do gênero, Rodriguinho dos Travessos refere-se à sua musa e amada como querubim, que vem da tradição judaica e na cabala ocupa a condição de anjo de primeira hierarquia, entre os serafins e os tronos, curiosamente na arquitetura e pintura neo-clássicas a imagem passou a ter a expressão de uma criança formosa.
De fato, a musa do eu-lirico critica o apogeu, podemos perceber um tom autobiográfico neste trecho, considerando que Leandrinho passava por uma crise amorosa em seu casamento com Jessivânia em virtude da vida atribulada de um astro do pagode.
O conflito leva à sensação que o eu-lirico tem de ver o céu desabar, vejam:
O astro... em seu apogeu... sente que o céu vai desabar...
e o ah...ah...ah....ahh... em escala microtonal descendente dá o som de uma queda das alturas do apogeu..
Eh!
Eh!
Até parece que o amor não deu
Não deu!
Até parece que não soube amar
Você reclama do meu apogeu
Do meu apogeu!
E todo o céu vai desabar
Ah ah ah ah ah ah ah!
Ai! Desabou!
Me iludiu!..
Em um trecho onde temos uma pequena variante do refrão, o eu-lirico conclui: "Ai!Desabou!" e "Me iludiu!" que finaliza a música inserindo a canção no gênero pagode melacueca trágico romântico que tem como caracteristica principal denunciar o desencantamento do homem em relação ao mundo em virtude de ilusões amorosas quebradas por um par de chifres.
Genial, depois de anos de angústia, consegui entender porque ela reclamava do apogeu e o que era esse apogeu. Obrigada!
ResponderExcluirO compositor da musica(temporal) é um pernambucano que se chama paulo, ele vendeu a musica na decada de 90.. para o art popular
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